A Confissão de Matvei

Introversões exteriorizadas.

05 agosto 2005

Latvija, Parte III, Bauska, 17-7-2005

Esta foi talvez a etapa de maior comicidade. Teve início na Autoosta, estação de autocarros. De bilhetes na mão, adquiridos na véspera, deparamo-nos com a pontual chegada à plataforma 10 de... uma idosa e exígua ford transit. Amarela. Facilmente constatei que dispunha de 15 lugares. Com menos dificuldade ainda verifiquei que mais de uma vintena de candidatos a passageiros se atropelavam até à porta de entrada. Mirei apreensivamente o Planeta Ju. Nisto, o respectivo chauffeur debitou uma série de acordes em imperceptível dialécto. Pela cadência dos sons, e porque alguns dos candidatos furavam o aglomerado, ocupando o interior do veículo, tive a felicidade de presumir que os acordes se referiam aos números inscritos nos bilhetes vendidos, dois dos quais tinha na mão. Desta sorte, e após vários "com licença, desculpe, não se importa de sair da frente, excuse me, please, obrigado", e sem atropelar ninguém mas com algumas cotoveladas... lá conseguimos entrar. Coisa que outros não conseguiram fazer. A viajem não era longa. Talvez por isso sobrevivemos. E chegamos a Bauska. A cidade é pouco maior do que a Ford Transit. Mas muito agradável. Arborizada. Ladeada por dois braços de rio. O Castelo, em reconstrução, oferece frequentes festivais de folclore e uma superior visão sobre uma admirável paisagem de frondosa e densa florestação. Enquanto almoçavamos num banco de jardim, fui interpelado por uma jovem que, nos pulsos, trazia cravadas marcas visíveis de várias tentativas frustradas de suicídio. A conversação, acreditem, não foi frutuosa. Ia ouvindo o letão. Respondendo o português. Despediu-se apalpando-me a perna e exibindo-me os seios. Este não foi, porém, o momento de melhor disposição. Esse estava ainda por vir. E chegou na forma de um autocarro. Pretendiamos visitar o Pils Rundale (v.d foto), a 11 km de Bauska. Compramos bilhetes e a cena da manhã voltou a repetir-se. Desta feita, estavamos mais experientes. Mas não estavamos certamente à espera de demorar 1h50m(!) a cumprir o mero trajecto de 11 kms. Não, não estavamos; vos asseguro! Mas foi o que aconteceu. O malfazejo autocarro serpenteou campos e vales em estradas de gravilha perante o nosso desespero que se foi diluindo em riso, graças, sobretudo, ao entretenimento proporcionado por quem entrava, vindo sabe-se lá de onde, ou do nada, com sacos de batata, baldes de fruta e sei lá mais o quê. Mas valeu a Pena. Porque o Palácio é monumental. O exterior é grandioso. O interior é luxuoso. Os jardins, de enorme extensão, são de estilo inglês. Geométricos. Foi mandado erigir pela czarina Catarina II que o presenteou a um amante (um dos muitos... dizem por lá). Várias horas depois, decidimos que o autocarro não era opção para o regresso. Havia lido no Let's Go que a requisição de boleia se assinalava com a mão estendida. Desconfiado, optei por escrivinhar Bauska numa folha de papel. Fomos recolhidos por um VW Polo, vermelho, conduzido por uma senhora que ostentava um dente em ouro. A empatia linguística foi nula. O percurso foi cumprido em silêncio. Com recurso a linguagem não verbal, conseguimos assinalar à simpática samaritana o local de saída. O retorno de Bauska a Riga, por seu turno, decorreu em espantosa normalidade. Na capital, aproveitamos, ainda, para conhecer lugares novos e para experimentar cozinha japonesa. Não recomendo. No dia seguinte, viriamos a deixar Riga, prosseguindo o périplo delineado.

<$BlogItemComentárioCount$> Commentários:

At 8/8/05 12:51, Blogger Rui Coutinho said...

pra a senhora mostrar os seios, devias estar com o penteado james dean... quem poderá censurar a senhora?

 
At 8/8/05 16:46, Anonymous Anónimo said...

...c tanto sucesso, eu diria, mantém o look...

 
At 12/8/05 11:14, Anonymous Anónimo said...

... então Matvei, não há Parte IV?

 

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